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Zeitgeist!


Zeitgeist é um termo alemão cuja tradução significa espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. Significa, em suma, o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.

O conceito de espírito da época remonta a Johann Gottfried Herder e outros românticos alemães, mas ficou melhor conhecido pela obra de Hegel, Filosofia da História. A palavra Zeitgeist como uma tradução de genius seculi (Latim: genius - "espírito guardião" e saeculi - "do século").Os alemães românticos, tentados normalmente à redução filosófica do passado às essências, trataram de construir o "espírito da época" como um argumento histórico de sua defesa intelectual.

Hegel acreditava que a arte reflete, por sua própria natureza, a cultura da época em que esta foi feita. Cultura e arte são conceitos inseparáveis porque um determinado artista é um produto de sua época e, assim sendo, carrega essa cultura em qualquer trabalho que faça. Consequentemente, ele acreditava que no mundo moderno não seria possível recriar arte clássica, que havia surgido do Zeitgeist em que os artistas clássicos viviam; ou seja, durante a Antiguidade Clássica. A arte clássica dependia puramente da filosofia e da teoria da arte, sem o acréscimo feito pelo Zeitgeist do mundo moderno, de uma função social moralizante.

Zeitgeist, o Filme, é um filme de 2007, produzido por Peter Joseph, que aborda temas como Cristianismo, ataques de 11 de setembro e o Banco Central dos Estados Unidos da América. Em 2008, foi lançado um segundo filme, continuação do primeiro, chamado Zeitgeist: Addendum, no qual trata de temas como a globalização.

Existe também o Movimento Zeitgeist, que é um grupo ativista global de sustentabilidade, que trabalha para unir o mundo com o objetivo comum da sustentabilidade das espécies. É um movimento social, com mais de 1.100 capítulos em quase todos os países.

Uma coisa é certa, e uma certeza já é grande coisa: o mundo virou um grande Não-Lugar. Não lugares não possuem características simbólicas suficientes para serem considerados lugares, mas ao mesmo tempo, representa algum nível de relação funcional a ponto de não se caracterizarem espaços. Vale lembrar a diferença entre espaços e lugares, que como já vimos, não são a mesma coisa. Minha leitura para o texto clássico de Tuan é que os lugares são espaços dotados de significado pelas pessoas, logo, sem pessoas, sem significado; sem significado, sem lugar.

O planeta virou um cenário. Pode-se enxergar, pela TV e internet, lugares que os turistas antes não deixavam. Deu até pra ver a cor da água de Veneza. O Mundo começou a respirar melhor pois não temos poluição. Consigo escutar os pássaros.

Nessas paisagens, lindas, nada acontece, nada vive, nada mais significa o que significara outrora.

Nosso mundo se voltou para nossa casa- bunker- refúgio.

A casa se tornou espaço-público e privado, num limite invisível, possibilitado como nunca pela tecnologia. Reuniões foram feitas via plataforma digital, turmas se encontraram para bater papo e beber virtualmente, até orquestras deram concertos, cada um da tranquilidade de sua casa.

A desmaterialização do trabalho não é tema recente, mas ele nunca teve tão em pauta como agora. Será que as empresas manterão seus escritórios gigantes, seus horários fixos, suas centenas de reuniões presenciais? Não dá pra saber. O que se sabe é que o movimento nômade-digital tomou uma outra proporção, não mais por podermos estar em todos os lugares e produzindo, mas por nos proporcionar não estar em lugar nenhum que não seja a nossa casa, ou seja, vivemos um anti-nomadismo, ainda que digital.

O mundo se tornou a nossa casa, e nossa casa, por sua vez, o centro do mundo.

Isso nos deixa diante de uma encruzilhada, será que sentimos tanta falta assim um dos outros a ponto de todos irmos pra rua e nos abraçarmos quando tudo isso acabar, voltarmos a ocupar os cafés na calçada, movimentar o comércio de rua, andar, andar e andar pela cidade?

Minha suspeita é que sim, e que nunca daremos tanto valor a isso quanto num futuro próximo.

Caso contrário voltaríamos ao século XIX, onde a revolução industrial amontoou trabalhadores próximos as fábricas, aumentando drasticamente a densidade de cidades como Londres, sem as condições tecnológicas (sanitárias) para isso, criando a ideia, vigente por mais de um século, de que a “cidade” era o mal, o lugar da doença, e que o paraíso estaria nos subúrbios, na natureza edílica, mais longe possível do caos das cidades.

Esse século veio nos mostrando, até agora pelo menos, que a felicidade está relacionada com a convivência, com a possibilidade dos encontros, do tempo gasto com aquilo que nos importa. Mesmo condomínios afastados começaram a se comportar como centralidades, inevitavelmente, uma vez que mesmo diante da vontade de se viver na “natureza”, a conveniência e a convivência gerada pelos centros urbanos não é algo a se sacrificar.

Começamos a trocar home theaters sofisticados pelos escassos cinemas de rua os Drive-in, condomínios - clube por uma corrida no parque público, o carro individual pelo transporte compartilhado, até o tamanho das nossas casas mudou drasticamente. Diminuiu e diminuiu, ficou menor que a vaga para nosso carro, e nós lidamos bem com isso. Entendemos que a experiência urbana dos grandes centros era infinitamente mais interessante que a nossa mera e tediosa vida privada.

A comunidade não é mais uma questão territorial.

Não somos mais definidos pela praça que ocupamos. A web é o lugar. Sim, pode ser um lugar, dependendo do uso que se faz dela.

Se as nossas relações comunitárias sempre foram baseadas em características identitárias/culturais, o próprio conceito de territorialização se desfez. Não é preciso estar num mesmo ambiente para se relacionar com “os seus”, nem na mesma cidade, nem no mesmo país.

As comunidades se tornaram virtuais, bem antes do sucesso de Zooms e Hangouts da vida. Nos relacionamos com aqueles com os quais nos identificamos, independentemente de onde eles estiverem. Essa rede comunitária invisível ficou evidente nesses últimos dias. Meu palpite é que continuaremos a nos encontrar fisicamente, em lugares de identificação, aqueles onde nos sentimos “em casa”, aliás a própria ideia de sentir-se “em casa” nunca foi tão relevante, mas isso não negará a tecnologia.

Quanto mais tech formos mais touch seremos, cada vez mais a nossa própria ideia de comunidade dependerá da tecnologia. Sociedades digitais já estão em andamento, nesse caso com o protagonismo da pequena Estônia, onde hoje, graças a um sistema tecnológico robusto, só existem dois documentos impressos em papel e todo o resto, toda a irritante burocracia cotidiana pode ser resolvida digitalmente, e com isso, sobra mais tempo pro que realmente importa.

A lição da Estônia também é semântica. Percebam que eles se comportam como uma “digital nation” e não “smart nation”. Ao mesmo tempo que a tecnologia embarca inteligência, a inteligência não se limita a tecnologia.

Mais uma vez é fácil concluir que tecnologia e humanidade estão inevitavelmente ligadas, o comportamento de uma impacta na outra, até porque, mais do que inteligentes, todos querem ser felizes, seja correndo nas praças e parques, seja dentro de casa.


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